BATALHAS DE MC'S DOMINAM SP
Jovens de diversos pontos da cidade se reúnem para assistir e participar dos duelos
O movimento hip-hop nos últimos anos ganhou cada vez mais força no estado de São Paulo. Uma das Batalhas de MC’s mais conhecidas acontece a 12 anos na saída do metrô Santa Cruz e que revelou nomes do rap nacional. Nos duelos, os MC’s se enfrentam tendo direito de resposta e ataque (sendo trinta segundos tanto no ataque como na defesa). É dividido em primeiro e segundo round e a decisão fica para o público que deve fazer o máximo de barulho para o MC que mais gostou. No caso de empate, há um terceiro round. Existem diversos estilos de batalha como: sangue, ideologia, conhecimento e gastação (que seria uma zoação sem nenhum limite.) O tipo de duelo que ocorre na Santa Cruz é conhecido como ‘’Batalha de Sangue'' que é quando não há um tema proposto, somente ata-
que ao adversário. Porém são impostas algumas regras como não xingar a mãe ou namorada do outro MC, nem fazer menções homofóbicas. Os confronto acontecem de forma bem simples, não há microfone, beatbox ou dj, somente os mc's rimando dentro do tempo, que é cronometrado pelo apresentador. As batalhas são um celeiro enorme para o rap nacional. Fazendo jus ao apelido de ''Calçada Sagrada" na Santa Cruz um dos nomes mais reverenciados é o de Emicida,
que ganhou ascensão na mídia. Mas que no início da carreira rimava na saída da estação, além de ter ganho em 2006 a Liga dos Mc's. Outros nomes como Fábio Brazza, Projota e Rashid também passaram por ali. Por ter sido de extrema importância na sua carreira o rapper emicida homenageou a batalha em uma música, que leva o mesmo nome do duelo. Ouça abaixo:
Marcello Gugu que é o fundador da Batalha disse em entrevista que a batalha da Santa Cruz representa a essência do hip-hop e é uma oportunidade de aprender. Falou também que uma
arena está sempre marcada pela essência de quem ali passou "são palavras trocadas que movem sonhos, desejos e emoções". Aline, 19, diz que acompanha batalhas de mc's a desde que tinha 17, mas dificilmente tem a oportunidade de acompanhar pessoalmente. Mas disse o que as batalhas, em especial a da Santa Cruz representa para ela "pra mim vai além de só mc's rimando um contra o outro, é parte da história do hip-hop paulista e brasileiro, é uma referência. Tem mc's muito bons que não são reconhecidos, mas eles podem um dia ser o próximo Emicida, quem sabe."
No último sábado, 12, o MC campeão da Santa Cruz foi WM, que disputou com All. A rima que lhe consagrou campeão foi está " é mais um otário, invejoso que aconteceu, quer controlar o meu sonho com medo de viver o seu. Então, irmão se liga na batida, esquece o meu sonho e cuida da sua vida". Rimas como essas são chamadas de punchlines e costumam levar o público ao delírio que costuma gritar e aplaudir o mc, dando assim mais incentivo para as próximas rimas.
O terceiro round da batalha entre All e WM é possível ouvir aqui
Muitas vezes os MC's participam das Batalhas com a intenção de treinar seu freestyle para participar das seletivas que aconte-
cem de forma regional e estadual. No fim classifica-se um MC de cada estado para representar no "Duelo Nacional", que é realizado desde 2003 e atualmente ocorre em Minas Gerais de forma anual no mês de novembro.
POESIA MARGINAL ATRAI JOVENS
''Sabotagem, sem massagem na mensagem! Slam Resistência!" esse é o grito de ordem inicial
Quando se fala em poesia, imediatamente pensamos nos grandes poetas brasileiros como Drummond, Camões e Clarice Lispector. Dificilmente pensamos em arte e poesia de rua. Porém, uma modalidade já conhecida mundo a fora vem ganhando força nos últimos 10 anos em São Paulo.
O Slam é uma competição de poemas autorais surgida em meados dos anos 80, paralelamente ao surgimento do hip-hop. Mas diferente das tradicionais batalhas de mc's, nesse duelo os competidores (poetas ou slammers) tem até 3 minutos para recitar suas poesias e não podem usar nada além de voz e encenação.Os assuntos tratados geralmente são reflexões do cotidiano só que em forma de protesto.
Outra diferença é a é a forma de decidir o vencedor, não há voto popular e sim um júri que avalia os competidores de 0 a 10 e assim é feita a eliminação.
Em São Paulo existem mais de diversos slams, sendo o mais antigo o ''ZAP (Zona Autonoma da Palavra)" que existe desde 2008 e alguns dos mais conhecidos são ''Slam da Guilhermina'', ''Slam das Minas'' e o ''Slam Resistência'', acompanhamos o último slam citado em edição especial e conversamos com algumas pessoas que estavam no local.
Del Chaves, o organizador (slide 2) nos contou que participava do "Slam da Guilhermina", mas se reunia na Praça Rossevelt juntamente com movimentos sociais e começou a fazer algumas intervenções poéticas. As pessoas o questionavam sobre o que era o Slam "eles associavam com islamismo, então expliquei que era um campeonato de poesia e fiz aqui porque achei necessário." Ele conta que a atividade chega a atrair cerca de 700 à 800 pessoas em dias normais e acontece toda primeira segunda feira de cada mês.
Negra Rê, carioca, veterana das batalhas de mc's", atualmente é apresentadora do "Slam do Grito" no Rio de Janeiro e estava presente na edição especial do Slam Resistência. Ela conta que não foi díficil entrar nesse meio por já estar ali e conhecer muita gente. Por ser uma edição especial Rê não trouxe uma poesia, orém rimou sobre o que acontece nas favelas do estado em que reside, o Rio de Janeiro.
Por ter se popularizado na internet, a maioria dos frequentadores diz ter chegado até o "Slam Resistencia" através de vídeos assistidos nas redes sociais. Eric, que é frequentador assíduo diz que acompanha várias edições sempre que pode, mas que conheceu o Slam pela internet. Assim como Thiago e Guilherme, que são estudantes de fotografia no Senac Santo Amaro e estavam acompanhando o a atividade neste dia, eles dizem acompanhar outras batalhas também.
Nesta mesma edição do Slam, quem também compareceu foi Lucas Penteado. Poeta de 21 anos que ganhou algumas edições e após participar de um movimento ocupacional integrou o elenco de Malhação em 2017. Uma de suas poesias mais conhecidas e que lhe deu o título de campeão da edição de dezembro de 2016 é esta a seguir

O fato é que o Slam tem se tornado tão popular que existem vídeos com milhares de visualizações. Há também uma parte dedicada a intervenção poética no programa "Manos e Minas", todo sábado as 20h15 na TV Cultura. Além disso, as competições eliminatórias acontecem de forma estadual durante o ano. Em dezembro há um duelo nacional onde os vencedores de cada estado se enfrentam para ver quem irá para a grande final mundial, que acontece todo ano na França.